quarta-feira, 17 de abril de 2019

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PARSIFAL (Richard Wagner)

Acto I: Coros da cena do Graal; Acto III.

Erin Caves (Parsifal), Ante Jerkunica (Gurnemanz), Michael Kraus (Amfortas), Sónia Alcobaça (Kundry); Coro do Teatro Nacional de São Carlos, Kodo Yamagishi (Maestro assistente); Orquestra Sinfónica Portuguesa, Graeme Jenkins (Direcção musical).

Temporada Sinfónica 2018-2019 do Teatro Nacional de São Carlos

Coliseu Ageas, Porto, 12 de Abril de 2019
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No propósito de ampliação da parceria estabelecida entre o Coliseu portuense e o Teatro Nacional de São Carlos, cujo exórdio havia ocorrido em Outubro de 2017 com a apresentação em versão semi-cénica do derradeiro opus lírico pucciniano (Turandot), a lógica inerente a um formato concertante de largos extractos do "festival sacro" legado por Richard Wagner entender-se-á, de modo preambular, forçosamente à luz de persistentes constrangimentos financeiros que não enquanto congruente opção programática, incrustada, por afinidade temática, na presente quadra pascal. Uma perspectiva, eventualmente, debeladora de potenciais fragilidades dramático-vocais, redundará flagrantemente limitativa em face do alcance de um superior nível artístico.

Considerando os segmentos seleccionados, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, em exigente prestação, denotou suficiente coesão e apuro tímbrico, avultando sobremaneira as intervenções do naipe mais grave, não obstante alguma difusão genérica na aclaração de texturas.

Recomendável prestação da Orquestra Sinfónica Portuguesa, espelhando uma direcção musical de basta experiência (Graeme Jenkins), caracterizada pela sensibilidade na escolha dos tempi e fluente coordenação do efectivo, lastimando-se, tão-somente, um ligeiro pendor para alguns excessos dinâmicos.

Em Gurnemanz, Ante Jerkunica evidenciou notáveis predicados na assunção do venerando Cavaleiro do Graal, valorizando a extensa narrativa por intermédio de um instrumento de ampla rutilância, congenialidade tímbrica e fastidioso emprego das dinâmicas em inflexões de inequívoco efeito.

Características ostentadas, de forma análoga, pelo Parsifal de Erin Caves, alternadamente vigoroso e introspectivo, em robusta prestação, enquanto Michael Kraus, em circunscrita intervenção, logrou impor-se pelo engajamento patenteado, permitindo vislumbrar um relevante vocalismo.

Menção suplementar para a comovente expressividade de Sónia Alcobaça, luminosa presença no acto integralmente executado, materializada numa eficaz criação dramática.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

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LA TRAVIATA (Giuseppe Verdi)

Marina Costa-Jackson (Violetta), Carla Simões (Flora), Carolina Figueiredo (Annina), Luís Gomes (Alfredo), Sergio Vitale (Germont), João Cipriano (Gastone), Mário Redondo (Barão Douphol), João Merino (Marquês D'Obigny), João Oliveira (Dr. Grenvil), Diocleciano Pereira (Giuseppe), Leandro Silva (Um criado de Flora), João Rosa (Comissário); Coro do Teatro Nacional de São Carlos, Giovanni Andreoli (Maestro titular); Orquestra Sinfónica Portuguesa, Michele Gamba (Direcção musical); Pier Luigi Pizzi (Encenação); Matteo Mazzoni (Reposição cénica).

Temporada Lírica 2018-2019 do Teatro Nacional de São Carlos

Coliseu Ageas, Porto, 20 de Outubro de 2018
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Fragoroso retorno da Lírica ao Coliseu portuense, numa tradicional, conquanto, eficaz e evocativa leitura dramatúrgica do experiente Pier Luigi Pizzi, originalmente criada para o Teatro La Fenice de Veneza (1990) e, sequentemente, estreada em São Carlos na temporada de 1997.

Enformando, esteticamente, o período do Segundo Império (1852-1870), avultam aveludados, cromaticamente, berrantes (rubros e violetas), simbolizando a vulgaridade do fausto que permeia o promíscuo círculo social no qual a protagonista se move, em contraponto à sobriedade do fugaz idílio no acto intermédio e ao austero despojamento do derradeiro suplício.

No papel-titular, Marina Costa-Jackson evidenciou predicados consentâneos com um lírico pleno, beirando latitudes spinto. Detentora de generosa extensão e suficiente homogeneidade vocal, denotou assinalável plasticidade e amplo volume, mormente, nos registo médio e agudo, logrando convergir o cerne do drama por intermédio de uma abordagem de franca expressividade.

Luís Gomes delineou um jovial Alfredo, fundado num lídimo instrumento de tenor lírico, destacando-se, sobremaneira, o notável idiomatismo e ductilidade da linha vocal, ao serviço de óptimos instintos dramáticos.

Assaz sólido Sergio Vitale, numa prestação de paulatino ascendente, caracterizada pela elegância e lirismo do fraseado.

A generalidade dos demais intervenientes alcançou um bom plano, valorizando a distribuição.

Não obstante os andamentos algo lestos impressos pela coesa direcção orquestral a cargo de Michele Gamba, a Orquestra Sinfónica Portuguesa exibiu-se a contento, enquanto o desempenho do Coro do Teatro Nacional de São Carlos revestiu-se de um cariz galvanizador.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

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L'HEURE ESPAGNOLE (Maurice Ravel) | Versão de Jean-Frédéric Neuburger

Raquel Camarinha (Concepción), Bruno Taddia (Ramiro), Fernando Guimarães (Gonzalve), Rui Silva (D. Iñigo Gomez), Alberto Sousa (Torquemada); Ensemble Messiaen; Yoan Héreau (Direcção musical); Raquel Silva (Encenação).

40º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim

Cine-Teatro Garrett, Póvoa de Varzim, 27 de Julho de 2018
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Agradável apresentação do opus lírico camerístico de Ravel, numa encenação escorreita de Raquel Silva, fundada num sistema de plataformas com alturas diversas, avultando a curiosa e eficaz objetificação dos amantes Gonzalve e D. Iñigo Gomez em relógio, suprindo de modo hábil uma necessidade do libreto.

Raquel Camarinha constituiu-se o necessário fulcro dramático da acção, evidenciando hábil gestão expressiva dos predicados vocais, numa manifesta tentativa de priorização do plano dramático, de acordo com as exigências da obra.

Assinalável prestação do tenor Fernando Guimarães, não obstante a punitiva tessitura, em lograda contracena com o rival Bruno Taddia, denotando franco crescendo após um início algo laborioso. Particular destaque para a notável rutilância e pastosidade do vocalismo de Rui Silva e sólida contribuição de Alberto Sousa.

Yoan Héreau exibiu-se em bom plano, firmando uma direcção dedicada, no elmo de um engajado circunscrito conjunto instrumental.